Almoçávamos num restaurante simples e simpático, sentados numa mesa na calçada, separados dos transeuntes por uma grade. Entretidos na conversa, não percebemos quando parou à beira do portão um homem alto, moreno, maltrapilho e nos fitou, pedindo, então, a comida que havia sobrado da nossa refeição. Virei-me para o outro lado à procura da garçonete, para pedir-lhe que colocasse tudo numa vasilha que ele pudesse levar. Ela não me via, custou um pouco a me atender. Passaram-se alguns segundos ou minutos algo desconfortáveis para todos e antes que ela viesse a mim ele se foi. Não sei como ele interpretou meu gesto, penso agora. Ficamos ali sentados, instalado o desconforto, marcados pelo resto de orgulho daquele homem, resto engolido para ele pedir o nosso resto de comida, mas que serviu para tentar, talvez, preservar seu resto de dignidade. Talvez - talvez - aquela incômoda espera, aquela momentânea e fugaz convivência, significaria ter que aceitar outros restos de nós, os que sentamos confortavelmente do outro lado da grade.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
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