quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Dois museus

Um museu de arte contemporânea e um museu de história natural ficam num grande parque aqui na minha cidade. Aos fins-de-semana entra muita gente no museu de arte, a maioria pela primeira vez. Circulam pelas salas todas, olham tudo, leem os folhetos, olham, olham, às vezes também tentam entrar pela porta que dá acesso ao setor administrativo do museu. Depois de tudo olharem, intrigados, aproximam-se dos atendentes: "Mas onde estão os bichos?"

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Descascar a rotina quente

Escreveu a Yla sobre o aeroporto da sua cidade.
Na cidade de Tete, minha terra natal, havia dois acontecimentos anuais, lá nos tempos, faz muito tempo já: a chegada da canhoneira resfolegante com suas rodas taf-taf-taf carregada de cocos e vinda do Chinde e a chegada do avião da então DETA, hoje LAM. Acho que todos esperávamos esses momentos empolgantes, mágicos, o barco e o avião, vindos de misteriosos lugares de sonho. Com espanto e esperança descascávamos momentaneamente a rotina quente - porque quente, mesmo quente é a minha terra -, virávamos brisa e no barco e no avião semeávamos aquela esperança viva das terras pequenas: a de conhecer o horizonte um dia. Partido o barco, voado o avião, Tete voltava a enroscar-se na mansidão da vida, Zambeze na rotina, serra da Caroeira mirando-nos preguiçosa, embondeiros cuscando o tempo, espíritos manhungwe saciados por algum tempo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Aeroporto

O aeroporto da minha cidade, de quase 800.000 habitantes, passa a maior parte do seu tempo vazio, com picos de movimentação esparsos. Estive ali num desses momentos. São apenas 2 salas de embarque e 2 de desembarque. Dois eram os voos (sem acento!) de partida e 3 os de chegada, num intervalo de uma hora. Perto do portão de embarque, famílias inteiras. Mães, avós, crianças e toda a volumosa bagagem dessa trupe. Não achei quem não estivesse acompanhado de alguém muito próximo com semelhança fisionômica ou aparentando intimidade amorosa. Não eram homens de negócio que partiam daqui. O mês de janeiro explica essa presença.
A pequena revistaria estava cheia. O maior interesse estava sobre a gôndola de revistas de celebridades. Os únicos livros à venda são de leitura leve e/ou gosto duvidoso. Auto-ajuda, relacionamentos, dietas, romances.
Do lado de fora, outro movimento. Principalmente aos fins-de-semana, durante a tarde, nos canteiros que ladeiam a pista que dá acesso ao aeroporto chegam casais, grupos de amigos, famílias, de carro, a pé ou de bicicleta, vindos dos bairros simples da redondeza, e sentam-se ali para simplesmente assistir a aterrissagem e decolagem dos aviões.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Viagens de angústia e tragédia




Nem todas as viagens são agradáveis para os Africanos. Muitas são angústia e tragédia. Saiba por quê e como aqui, em 34 fotos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Cada acto está grávido de história

É assim mesmo, viajar na vida, vidar na viagem. As coisas mais importantes são aquelas que, porque adubadas pela rotina, porque pedaladas pelo já visto, nutrem os nossos pequenos passos na vida. O mais espantoso da vida é o banal. A história é bem mais do que a história do importante e dos grandes homens: é a história das pequenas cavilhas, das coisas que fazemos e repetimos. Cada acto está grávido de história, de microfísica de vida, especialmente os actos que não cabem na história dos historiadores. E cada um desses actos guarda, então, uma surpresa. Por isso, como diz a Yla: "(...) quando tudo será igual, mas só para quem não sabe olhar". Viajemos, videmos, nesta geografia dos pequenos actos.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Vamos de ônibus

Cerca de 15 km entre casa e trabalho. Usando o transporte coletivo, precisa-se de pelo menos dois para chegar de um canto a outro. Como estamos em janeiro, mês de férias escolares, os ônibus não lotam tanto em horários de pico.
Fim do expediente comercial, dia ainda claro nessa época do ano, completo pôr-do-sol só depois das 19h. Ao entrar, já se sabe logo de que lado vai bater o sol durante a maior parte do percurso, é o lado dos bancos ainda vazios. Dirijo-me ao fundo, onde a aglomeração costuma ser menor(porque, sem que eu entenda, todos vão ficando pela metade do ônibus, às vezes até chegar ao ponto de não haver como entrar mais ninguém, não por não caber, mas por ficar aquele bolo de gente ali no meio, enquanto no fundo há ainda espaço). Levo bolsa e sombrinha nas mãos. Quando levo cadernos e livros, alguns se oferecem para levá-los, geralmente senhores e senhoras. Um rapaz muito magro, adolescente, sentado, lê com detida atenção dois folhetos sobre suplementos alimentares, produtos comuns entre os frequentadores de academias de ginástica. Mais à frente, onde já não posso ver, atrás de outras pessoas de pé, uma mulher fala ao celular quase aos gritos, um bocado irritada - diz que não vai voltar "lá" para resolver "isso'' de novo, "ele" que se vire sozinho. Muitos em silêncio, com olhar cansado. Descerão a maioria no centro da cidade para apanhar um outro ônibus.
No segundo ônibus, que ruma para o bairro, as pessoas se conhecem, ouve-se o falatório. Uma senhora com jeito simpático, prestativo, ensina em voz bem alta uma receita de solução para gargarejo a um senhor idoso e bastante rouco que está sentado não muito perto dela. No fim da viagem, a cada parada ouve-se uma despedida amigável, com um 'aparece lá em casa!' ou um 'manda um beijo pra sua mãe' aqui e acolá e sempre com um "até amanhã!", quando tudo será igual, mas só para quem não sabe olhar.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Pela estrada

Viajar por rodovias brasileiras, uma das coisas de que mais gosto e que não faço tanto quanto gostaria.
Do centro-oeste ao sudeste do país chama a atenção a mudança da vegetação ao longo do trajeto. Saímos do cerrado, com aquelas típicas árvores medianas, esparsas, de troncos retorcidos, vegetação rasteira abundante. Por ser janeiro, época de chuvas, o gramado está verdejante. Campos extensos, sensação de sem fim. Da mão do homem no mato, vê-se muitas fazendas beirando a estrada, muito gado bovino pastando no campo cercado. Plantações de milho, das que eu pude identificar. Cidades distantes umas das outras, poucos postos de combustível.
A paisagem vai mudando aos poucos, começam a surgir eucaliptos plantados ordenadamente. Já se avistam pequenos morros. Pés de laranja igualmente ordenados. Os bois já escasseam. A entrada às cidades se sucedem rapidamente. Entre algumas já não se percebe a divisa, a não ser pela placa indicativa. Mesmo sem placas seria possível saber que se está na região sudeste, mais precisamente a atravessar o estado mais rico do país, São Paulo. Grandes rodovias privatizadas em sua maioria.
Até chegar à serra e avistar os mares de morro de que ouvi falar nas aulas de geografia. Estrada cortando pedras e a sensação de pequeneza no mundo. Mais um pouco e chegar-se ao litoral fluminense.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Chicualacuala

Vamos lá então à viagem.
Sempre achei admirável poder contar algo em poucas palavras. No que me concerne, preciso de muitas para descrever não importa o quê. Mas por vezes aconteceu-me e acontece-me aproximar-me - creio - da pouquidão fotográfica, como nesta descrição de uma pequena vila ferroviária de Moçambique, uma vila chamada Chicualacuala: "O horizonte, um fio de fumo que se avoluma, o comboio que se aproxima. Chiar de freios, vai parando, parou. A vila atraca buliçosa às carruagens. Chicualacuala."

Convite

Acho que essa será uma bela viagem. Por lugares comuns e ao mesmo tempo desconhecidos, cotidianos e esquecidos, um olhar curioso e espantado sobre o habitual, sobre o que nossa mente aprendeu a ignorar, adestrados que somos pela rotina. Aos que quiserem uma carona nesse olhar, está feito o convite.

Desenhos sensoriais

Bem, estou a pensar que a primeira postagem sem tema explícito pode servir, de forma breve, para introduzir o tipo de blogue hoje nascido, blogue de observações, de desenhos sensoriais, de empatia cultural, de trocos bi-nacionais, de empatia, de descobertas das nossas terras, de interface. O que você acha, Yla, você que está no Brasil?