sexta-feira, 20 de março de 2009

Universidade

Sala de aula universitária. Grupos, as chamadas "panelas".
1. Adolescentes recém-saídos da escola, bons alunos, classe média. Assistem aos mesmos programas de TV, lêem revistas semanais para estarem bem-informados, é preciso ter opinião sobre tudo. Hits da internet é assunto recorrente, acontecimentos das noites do fim-de-semana também. Sentam-se sempre juntos, ajudam-se e competem entre si simultâneamente. Sabem de si por comparação, sobretudo quanto ao desempenho.
2. Jovens que estão cursando a segunda graduação, desistiram de outra ou tentam uma nova profissão. Não tão juntos, parecem precisar menos uns dos outros. Sentam separadamente, mas próximos suficiente para um comentário quase sussurrado ser entendido. Preocupam-se mais com a presença que com o conteúdo das aulas. A universidade não é o centro de suas vidas, falam de sobrevivência, trabalho, oportunidades.
3. Aparentemente deslocados, há os flutuantes, não pertencentes a nenhum grupo, transitando entre uma roda de conversa e outra. Sentam-se quase sempre sós, parecem estar sempre apenas de passagem, sem criar laços. Enigmas.

Há inúmeras outras divisões nesse grupo, mas hoje foi essa que eu percebi durante o intervalo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Grande Campo

Camping. Chegar antes do anoitecer para montar a barraca, pressa. Primeiro dia, disposição. Tomar banho frio com alegria, ouvindo conversas alheias. Uma adolescente conta em tom de desabafo como é ridicularizada na sua turma da escola por ser evangélica. Deitar no colchão de ar sob o céu estrelado, ser nada no infinito. Esquecer talheres, comer na panela do vizinho. Parceria. Horizonte verde, sobe e desce dos campos em ondas a perder de vista, reduzir-se. Chuva inesperada, correria, "guarda a toalha!".
Jovens nas barracas ao lado invadem meu sonho ao adentrarem a madrugada falando do futuro, ela ainda vai fazer outra faculdade, ele não quer perder o foco no estudo durante esse ano. Andam sempre em blocos, sempre juntos. Gargalham de um tombo, flertam entre si. Sutilezas. Trouxeram consigo montes de biscoitos doces recheados, raramente estão com as mãos vazias, bocas sempre ocupadas, a falar, a comer - a beijar? -, fome de vida. Quase zumbis pela manhã, elétricos à noite.
Desmontar barracas, não deixar rastro de presença, recolher pertences, despedir-se. Voltar à vida de muita informação e pouco contato, do "eu" gigante e espaçoso, do falho olhar. Não. Seguir a viajar na vida, a vidar nessa longa viagem.